estou a estagiar e termino a licenciatura daqui a três meses, já com um ano atrasado. E perdi uma oportunidade de emprego por ser nova.

Lembro-me de estar por aí no 7º/8º ano, a ouvir aquela parte da matéria em que as pessoas trabalhavam 16 horas por dias, ou até mais, e passar a aula toda a pensar no meu pai. Fazia-me comichão. Porque o meu pai trabalhava na altura, e até à uns meses, 16 horas por dia, a semana inteira. Sem folgas. Actualmente trabalha 13. Com as mesmas folgas e, ainda, com direito a dois salários em atraso, sem subsídios.

Pelo menos está a fazer o que gosta. Mas até mesmo ele, um dia tem que ceder. E esse dia aproxima-se...

Hoje descobrimos que agora só temos correio duas vezes por semana. Porquê? Porque não há carteiros suficientes. Sim, não é culpa dos cortes nem nada.

Não consigo evitar sentir-me uma sortuda pelo facto de estar no meu 2º ano de licenciatura, de cada vez que ouço falar dos cortes, das dificuldades, da quantidade de pessoas que desistem do ensino superior e das outras que já nem o procuram... É impossível não me sentir previligiada nestes tempos.

Soube agora que cada vez que for a uma consulta vou ter que pagar cinco euros e aqueles exames que andei a fazer sei lá quanto.  Acabou-se a isenção. Eu que detesto ter que pedir dinheiro aos meus pais, eu que já devia ter trabalho, com a pressão cada vez maior para o encontrar, estou a ficar com o cerco cada vez mais apertado.

Quero (e não quero) sair daqui. Faltam dois anos... acabando a licenciatura dou uma oportunidade a Portugal. Só uma.

Já ouvi dizerem que as pessoas estão a procurar cada vez menos o ensino superior... Claro. Não tem nada a ver com a crise e a situação financeira das pessoas.