Doces mentiras
Passei os dedos no teu cabelo para deixar no perfeito desalinho de que gosto tanto. Estavas febril, tão sem cor. Os olhos pesavam-te, pareciam sonolentos, mas abriste-os. Já não tinham brilho e perdiam-se num imenso vazio, mas de alguma forma encontraste-me e focaste o olhar no meu. Ou assim pensei eu. Afaguei a mão que não reagiu ao meu toque quente, provavelmente porque já não me sentias. Como irias sentir tu fosse o que fosse se eles continuavam a impingir-te aqueles venenos no corpo para te manter cá?
Lembro-me de ter moldado nos meus lábios as palavras ‘Vais ficar bem.’ e de morder o lábio inferior para aguentar as lágrimas. Recordo também do gosto a sangue que me passeou na boca e de optar por cerrar o punho no colo. Não acreditaste. Eu também já não conseguia acreditar.