O coração deles é provavelmente o mais mole.
Acordei com o melhor despertar de sempre. O som de gargalhadas inconfundíveis e adoráveis. Sorri para mim quando o seu rosto me invadiu os pensamentos. Afastei o cobertor que me aquecia e arrependi-me de tal gesto. O ar seco e gelado depressa arrefeceu cada parte do meu corpo.
Com o olhar percorri cada ponta daquele quarto. Estava sozinha. Uma nova gargalhada ecoou pelas paredes, desta vez era mais forte. Calcei os chinelos de inverno e enfiei os braços no robe enquanto saía do quarto para descer as escadas.
-Anda, anda ao pai. – A sua voz melodiosa chamou. Imaginei-o de braços estendidos para uma pequena menina que o ignorava mais interessada a coçar as gengivas, que os dentes tentavam romper, mordendo a mão. E provavelmente o pequeno estaria de volta das minhas revistas, a comer as páginas sobre política quando ele não ia a tempo de tirar os bocados de papel das mãos.
E a imagem passou para a realidade, tal como me surgira na cabeça. Só não previra os pezinhos descalços no chão de mármore gélido.
-Mãe. – Alguém chamou no seu dialecto ainda meio desajeitado.
Virei a cabeça para poder confirmar que o mais velho estava sentado no sofá, com dois cobertores até ao pescoço e a sua adorada almofada debaixo da cabeça para poder olhar para a televisão e ver os desenhos animados preferidos.