Adeus, Zoladex e Tamoxifeno
O que partilho aqui é apenas o meu testemunho pessoal, com o objetivo de ajudar outras mulheres que estejam a passar pela mesma situação. Quando fui diagnosticada com cancro da mama, encontrei pouca informação em português e tive de procurar quase tudo em inglês. Agora, após terminar 5 anos de tratamento, percebi que a informação disponível é ainda mais escassa.
O que vou descrever não substitui em nenhum momento o acompanhamento ou aconselhamento médico. Se estiveres a passar por algo semelhante, procura sempre o teu médico.
Em junho fiz a última injeção de Zoladex e tomei o último comprimido de Tamoxifeno, depois de a minha oncologista me dar luz verde para fazer uma pausa e tentar engravidar. Porque, pelo que percebi, os planos ainda passam por manter o tratamento ou retirar os ovários.
Comecei logo a pesquisar: Quanto tempo demoram a passar os afrontamentos? Quando é que a menstruação regressa? Será que vou conseguir engravidar? As respostas eram escassas, difíceis de encontrar e quase sempre dispersas.
Descobri que os afrontamentos podiam durar entre 3 a 6 meses, ou até mais de um ano. A menstruação idem… ou nunca mais regressar. Depende da idade, depende de outros fatores. Sou uma pessoa positiva, mas neste ponto preparei-me para o pior: Adorava ser mãe, mas talvez não consiga…
Em agosto comecei a fazer testes de ovulação em casa. No início de setembro, apanhei o pico de LH. Sabia que podia não significar nada, mas dois dias depois senti cólicas leves, semelhantes às menstruais. Pesquisei e percebi que a ovulação também pode causar essas dores. Talvez fosse um sinal, talvez não… Mas se estivesse certo, a menstruação podia chegar dali a uma ou duas semanas. E chegou.
Ressalvo:
O que vou descrever não substitui em nenhum momento o acompanhamento ou aconselhamento médico. Se estiveres a passar por algo semelhante, procura sempre o teu médico.
Já tinha lido no “senhor Google” que a primeira menstruação após 5 anos de tratamento hormonal podia ser muito abundante, fora do normal e desregulada. O primeiro e o segundo dia foram exatamente o que se espera de um ciclo habitual. Mas no terceiro acordei às 6h da manhã e o copo menstrual já estava a transbordar. Aproveitei que estava acordada e preparei-me para começar a trabalhar às 7h.
Às 7h30 senti novamente algo estranho. Fui ao WC e, mais uma vez, o copo estava cheio. E assim foi, de hora a hora ou de hora e meia em hora e meia. Nunca tinha passado por algo assim: era sangue puro, com uma cor e textura que me lembravam uma ferida aberta. O cheiro no WC também não ajudava. Entre as 6h e as 14h, despejei o copo menstrual 6 ou 7 vezes e troquei de cuecas em todas as ocasiões. A minha mão parecia sempre a de alguém a tentar estancar uma hemorragia. Assustei-me, apesar de me sentir saudável e sem outros sintomas.
Assustei-me, apesar de, fora isso, me sentir perfeitamente saudável e estar bem.
Liguei para a Saúde 24, descrevi a situação e aconselharam-me a ir às urgências de Ginecologia. Aí, fui informada de que estava tudo normal: nem a cor, nem a quantidade eram motivo de preocupação. Fizeram inclusive um exame, e a médica confirmou que o útero estava saudável, os ovários também e que havia folículos. Tudo dentro do esperado.
Hoje, ao 4º dia, ainda despejei 4 copos, mas nada como ontem. E claro, estou muito mais descansada. Entretanto aproveitei para comprar duas cuecas menstruais para estas alturas. São muito mais confortáveis e amigas do ambiente 😊
A primeira menstruação pode, de facto, ser assustadora. Felizmente, trabalho a partir de casa 90% da semana, o que tornou tudo mais suportável. Não consigo imaginar quem não tenha essa possibilidade… No meu caso, teria sido impossível ir ao escritório: o gasto em pensos seria absurdo, uma única cueca menstrual não chegaria e, sejamos honestas, ninguém quer andar com cuecas sujas guardadas na mala.
Força a todas: às que receberam recentemente o diagnóstico, às que estão no meio do tratamento, às que já o terminaram e às que vivem com a esperança de que este mal nunca mais volte. Que cada etapa, por mais difícil que pareça, também traga sinais de vida, de coragem e de recomeço ❤