recordações
Eramos quatro das sete crianças que haviam naquela terra, naquele momento. Vocês emigrantes a visitarem os avós, nós com o mesmo motivo mas do interior. Tinhamos acabado de nos conhecer e fomos inseparáveis durante aquela meia dúzia de dias. Não sei como é que começou, já não me recordo. O que me lembro melhor é de estar de castigo, amuada ao fundo das escadas da casa da minha avó. O meu irmão já tinha desaparecido a correr ao virar da esquina do quelho. Provavelmente tinha-os ido chamar para irem brincar.
Ainda eu não sabia de um pequeno segredo que me 'salvaria' a vida. Aquela casa velha que estava a cair aos bocados que está junta à nossa, do lado direito, estava directamente ligada à casa da avó deles e eles atravessaram-na sorrateiramente para me irem chamar. Imaginem o tamanho do meu sorriso com eles ali no topo das escadas daquela casa que sempre tivera medo devido ao seu aspecto. Com a minha tia em casa distraída a fazer qualquer coisa lá me pisguei eu atrás deles.
Apesar de ainda estar limitada e não poder ir muito longe, já não estava ali de castigo, no fundo das escadas da minha avó. Tinha-me escapulido! E estava bem acompanhada. Atravessáramos a velha casa e ficámos a tarde a jogar às cartas - keims se é assim que se escreve. Isto até ouvir a minha tia gritar pelo meu nome para saber onde é que eu andava. Nessas alturas atravessava de novo a casa o mais depressa que os buracos no chão me permitiam (e eram carradas deles!), sentava-me no topo das escadas daquela casa com uma cara amuada e ficava a vê-la passar de um lado para o outro sem reparar em mim. Até que me decidia a dizer 'estou aqui' também num tom amuado. Olhava para mim, dizia meia dúzia de ralhetes e voltava para dentro. Eu, voltava para o jogo de cartas.
Isto até um dia descobrirem o nosso pequeno segredo. Foi bom enquanto durou :)